TRANSCRIÇÃO
DAS ENTREVISTAS
OBS.:
Buscou-se retratar o mais “fiel possível” na linguagem “escrita”, a “fala” de
dois profissionais atuantes na área da saúde pública sobre a visão que eles têm
sobre as questões relacionadas ao termo “ética”. Ambos não autorizaram a
divulgação de seus nomes pelo fato de que, ao concederem a entrevista, falaram
em nome próprio, e não da instituição à qual estão vinculados
profissionalmente.
MÉDICO
GINECOLOGISTA
G.:
Como é tratada a “ética” na sua profissão?
DR.:
__”A ética nada mais é que (pausa)...a conduta adotada pelo profissional de
cada área...Como na nossa área, nós lidamos com “vida”, que é...um bem maior do
ser humano, a ética é uma questão que...deve ser levada respeitosamente e , em
fim,... ela nada mais é que a boa conduta...É o primeiro mandamento do
“cuidar”... Não pode ser manchada”.
G.:
Quais as conseqüências da fome ou desnutrição para a parturiente e para o feto?
DR.:__”Catastrófica.
Para a mãe, pelo risco de infecções... Ao concepto (feto), a desnutrição
materna é a causa freqüente de restrição do crescimento intra-uterino e...
as... implicações associadas a ele... ou seja, os conceptos pequenos para o tempo
de gestação... o que perdura para o resto da vida, caso... ele não tenha
condições de subsistência digna”.
G.:
Na sua opinião, o roubo para saciar a fome é moral?
DR.:__”Ilegal
é... eu não julgo imoral...ninguém merece padecer de fome... Num planeta como o
nosso, é um desrespeito com a mãe natureza...” (cita o CEAGESP, exemplificando
como é jogado fora os alimentos)... É uma agressão para aqueles menos
favorecidos, e que... por uma razão ou outra, se encontram desempregados, com
família... as vezes numerosas para alimentar... enquanto comerciantes jogam
fora tantos alimentos... que são... alguns perecíveis sim, mas se fosse para
utilizar no dia daria para ser reaproveitado... Isso,sim, é imoral... é
ilegal,... anti-ético,... uma “pouca-vergonha”...(indignação).
G.:
O senhor acha que o “meio” em que ele vive, propicia o ato contraventor?
DR.:__”Provavelmente...
pois... se ele não tem condições socioeconômicas que dê amparo... Uma mãe, por
exemplo, que tem o filho reclamando de fome... o que ela tem a fazer?...
imoral, é... mas a situação a leva a aquilo... é muito relativo...”.
G.:
(Sobre as elites). O senhor falou sobre condições socioeconômicas. O que é o
poder?
DR.:__”(Primeiro)
1. É ser “rico”. Se junta a riqueza com a informação... se torna potência”.
“(Segundo)
2. Informação... quando há informação... tudo é possível de ser evitado...”
PSICÓLOGA
(PSICOPEDAGOGA)
G.:
Quais as conseqüências da má nutrição para o aprendizado?
PSI.:__”Todas...
Na criança má nutrida, o rendimento escolar cai. O cérebro não funcionará tão
rapidamente como o da criança que se alimentou. O seu cognitivo ficará exposto
a complicações clínicas associadas ao desenvolvimento cognitivo”.
G.:
Na sua opinião, o roubo/furto para saciar a fome é moral?
PSI.:__”Não.
É imoral. Dentro da minha filosofia, eu aprendi que roubar é errado. É mais
correto pedir do que roubar. A minha concepção se explica devido a sociedade na
qual eu me insiro. Não existe “mais ou menos”. Ou roubou ou não roubou. Ou
seja... eu sou contra o roubo... O povo na África... “come” areia e não vai
roubar”.
G.:
Pode se dizer que os transtornos de comportamento moral dependem do “meio
social”?
PSI.:__”Sim.
Porque a pessoa vai adquirindo... e transfere aquilo que vivenciou. Apesar de
que... outros fatores podem... fazer com que atitudes... suas atitudes sejam
diferentes das do meio em que vivem. Depende da questão genética de cada um...
a pré-determinação influi muito na conduta do indivíduo. Difere de pessoa para
pessoa”.
Tem-se,
ainda, o relato de um representante social atuante nas instâncias jurídicas à
quem foi proposto, basicamente, as mesmas questões anteriores. Advogado, o DR.
ELIAS ALVES COSTA foi conciso, direto, mas, nem por isso menos “humano” ao discorrer
situações que interferem na “saúde” da
sociedade nacional.
G.:
DR. Elias, como é tratada a “ética” na sua profissão?
DR.
Elias: __”Na advocacia, a ética é pensada de forma que possui um código de
ética escrito, que é representado por uma lei federal que traça princípios e
normas a serem observadas pelo advogado na sua relação com sue cliente, sua
classe profissional e com as instituições públicas comas quais se relaciona no
seu dia a dia, com o promotor, com o juiz, com as partes que englobam o
processo, visando a valorização da classe profissional da advocacia, diante do
poder judiciário como ator essencial para a administração da justiça, de forma
independente visando garantir os direitos dos cidadãos e o cumprimento das leis
e da constituição”.
G.:
Quais as conseqüências da fome ou desnutrição para a parturiente e para o feto?
DR.
Elias:__” Para mim, como advogado, pode gerar, futuramente, delinqüência por
parte da mãe. Levando-se em consideração o estado de necessidade em que se
encontra, ela pode vir a cometer um delito/furto/roubo visando saciar a fome.
Numa hipótese mais extrema, ela poderia vir a praticar um aborto, eliminando
uma possível vida representada pelo feto... ou o feto nasceria prematuramente,
deficiente físico e/ou mental”.
G.:
Na sua opinião, o roubo para saciar a fome, é moral?
DR.
Elias:__ “Primeiramente, deve-se levar em conta qual o conceito de moral e em
qual grupo de pessoas estaria inclusa a pessoa. Em um segundo momento, como
advogado, responderia que não é moral, todavia, é um delito justificável, posto
que a justiça tem aplicado aos casos concretos a espécie designada de “furto ou
roubo famélico”.
G.: Quais as conseqüências da má nutrição para
o aprendizado?
DR.
Elias:__ “Baixo desenvolvimento psicológico e mental, dificuldade de raciocínio
e concentração, etc. Os testes de avaliação, no Brasil, em relação às classes
menos favorecidas, têm demonstrado níveis de aprendizado baixo”.
G.:
Pode-se dizer que os transtornos de comportamento moral dependem do “meio
social”?
DR.
Elias:__ “Sim e não.O que muda são as espécies de transtornos observados em
cada classe e a forma como são praticados os pequenos desvios de conduta pelos
indivíduos de classes sociais distintas. Em uma análise mais profunda, digamos
que não, posto que, o que muda é o grau de reprovabilidade, pois, no meu ponto
de vista, um furto cometido por uma pessoa menos favorecida, de classe social
baixa, possui, ou deveria possuir uma reprovação menor. Ao contrário, seria o
furto praticado por uma pessoa de nível social alto, pois esse possui mais
conhecimento, mais intelecto, maior nível educacional, que tem seu nível de
conduta bem mais reprovável”.
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