domingo, 27 de novembro de 2011

Matéria de blog


Especial  N° Edição:  1727 |  07.Nov.02 - 10:00 |  Atualizado em 27.Nov.11 - 12:25

Quem tem fome tem pressa

A frase do sociólogo Betinho é a síntese do apelo de 54 milhões de brasileiros, quase um terço da população do País, que não têm comida para pôr no prato
Célia Chaim
Muitos e muitos deles têm o sobrenome do presidente, Silva. Maria, João, Rafael, Sebastião, Benedita... A mais conhecida delas é Bené, a senhora Benedita da Silva, governadora do Rio de Janeiro. “Não tem coisa mais indigna que a fome”, diz ela com conhecimento de causa. Durante muito tempo na vida, a ex-favelada Benedita comeu fubá puro no almoço e no jantar. Só isso. A brava Benedita da Silva superou a miséria e a fome, mas o fubá puro continua sendo o alimento básico de 54 milhões de brasileiros, quase um terço do total de habitantes do País, de 175 milhões.
São pessoas que vivem com menos (às vezes muito menos) de um dólar por dia e colocam o Brasil como um dos países mais desiguais do mundo: 10% de sua população concentra mais da metade da riqueza. É a maior de todas as tragédias brasileiras. “Estou seguro de que o combate ao flagelo da fome é, hoje, o clamor mais forte do conjunto da sociedade, disse Luiz Inácio Lula da Silva ao anunciar a criação de uma Secretaria de Emergência Social com verbas e poderes para iniciar já em janeiro a urgentíssima missão de pôr fim à pior forma de exclusão, a de um prato de comida.
A fome, que faz um copo de água doer quando bate no estômago vazio, é a grande desgraça da humanidade. Seis milhões de crianças morrem por desnutrição a cada ano, a maioria nos países em desenvolvimento. As mais recentes estimativas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que, por dia, morrem 25 mil pessoas vítimas da fome e da pobreza. “A tragédia da fome em meio à opulência é dramática na realidade atual do mundo”, diz o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf. Ao apresentar o estudo “O estado da insegurança alimentícia no mundo em 2002”, Diouf disse que virtualmente em todos os países há grupos de pessoas que não podem realizar plenamente o seu potencial humano porque passam fome ou são subnutridas, o que mina suas forças e paralisa o sistema imunológico.
No Brasil, o custo para erradicação da indigência corresponde a R$ 1,69 bilhão mensais ou 2% do PIB, de acordo com o estudo Mapa do Fim da Fome no Brasil, elaborado no Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, divulgado em julho e baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), de 96 a 99. O estudo mostra que a aplicação de R$ 1,69 bilhão por mês significaria uma contribuição mensal de R$ 10,4 por brasileiro, tendo como base a renda per capita do País, que é de R$ 262. “A idéia desta pesquisa é mostrar como custa pouco erradicar a pobreza e fornecer dados exatos de quanto seria preciso para tirar 50 milhões de brasileiros da indigência”, explicou o economista Marcelo Neri, chefe do Centro. Esse contingente, que chega perto da população da França e da Inglaterra (60 milhões) e deixa para trás, com folgada distância, uma Argentina inteira (38 milhões), vive com R$ 80 por mês, dinheiro insuficiente para comprar uma cesta de alimentos que cubra as necessidades calóricas básicas dos indivíduos.
Os Estados nordestinos são os que apresentam maior índice de pobreza do País. Todos, à exceção do Rio Grande do Norte, têm mais de 50% de sua população abaixo da linha de pobreza. O Maranhão é o Estado que apresenta a pior situação: mais de 63% de sua população vive abaixo dessa linha. De acordo com a pesquisa, precisariam ser investidos R$ 143 milhões por mês no Maranhão para se reverter esse quadro. O Piauí é o segundo Estado com maior índice de pobreza do País (61,7%), seguido do Ceará (55,7%), Alagoas (55,4%), Bahia (54,8%), Tocantins (21,27%), Pernambuco (50,9%), Paraíba (50,2%), Sergipe (50,14%) e Rio Grande do Norte (46,93%).
A América Latina inteira empobreceu. Dados da Comissão Econômica para o Desenvolvimento Econômico da América Latina e Caribe (Cepal) mostram que os países latino-americanos têm hoje mais 20 milhões de pobres do que há cinco anos, em consequência da retração de suas economias. Afetada por uma contração que começou em 1997, como reflexo da crise asiática, a região latino-americana entrou numa fase de crescimento lento e recessão, enquanto a proporção de pobres passou de 43% a 44% do total da população. “Isto significa que, ao longo destes anos, foram acrescentados cerca de 20 milhões de pessoas à população pobre da América Latina”, disse José Antonio Ocampo, secretário executivo da instituição, em 24 de outubro, durante a cerimônia de comemoração do Dia das Nações Unidas. Segundo as mais recentes estimativas da Cepal, a região terá este ano uma queda de 0,1% em seu Produto Interno Bruto (PIB), com reduções mais acentuadas nas economias de Argentina (-10%), Venezuela (-3%) e Uruguai (-4%), e um menor crescimento no Chile (inferior a 2,5%) e Brasil (1,8%).
Fome chama pobreza e vice-versa. Inúmeros estudos confirmam que a fome impacta em cheio a condição da pessoa pobre para desenvolver suas habilidades e reduz sua produtividade no trabalho. Nas crianças, afeta o desenvolvimento físico e mental, reduzindo drasticamente sua capacidade de aprendizado. A deficiência de iodo, uma das principais causas do retardo mental, é uma ameaça para 1,5 bilhão de pessoas no mundo. A carência de ferro reduz a produtividade dos trabalhadores braçais em torno de 17%. Além disso, eles são frequentemente incapazes de trabalhar o mesmo número de horas que os bem nutridos porque ficam doentes mais frequentemente. A anemia, sozinha, é capaz de reduzir o Produto Interno Bruto de um país de 0,5% a 2%. Em Bangladesh, por exemplo, o impacto em 2001 foi de 2%, segundo dados do Banco Mundial; na Índia chegou a 1,3%.
Robert Fogel, Prêmio Nobel de Economia em 1993, não tem dúvidas de que “pessoas com fome não conseguem sair da pobreza”. Ele conta que 20% da população da Inglaterra e da França foi efetivamente excluída da força de trabalho em 1790, por causa da subnutrição. O avanço do nível de nutrição, segundo Fogel, é responsável pela metade do crescimento econômico dos dois países entre 1790 e 1880. “Como vários países em desenvolvimento são atualmente tão pobres como eram França e Inglaterra em 1790, a eliminação da fome hoje pode ter o mesmo impacto no desenvolvimento desses países”, escreveu Fogel no estudo da FAO.”
Entre 1998 e 2002, o documento aponta a existência de 840 milhões de pessoas desnutridas, das quais 799 milhões vivem em países em desenvolvimento, 30 milhões nos países em transição e 11 milhões nos países industrializados. Em um nível ligeiramente superior ao da penúria encontram-se mais de dois bilhões de pessoas carentes, chamadas de “micronutrientes”. São pessoas cujas dietas carecem de vitaminas e minerais, sobretudo de vitaminas A e C, e de ferro, iodo e zinco, essenciais para o desenvolvimento e o crescimento dos seres humanos.
O estudo monitora o progresso feito anualmente contra a fome e a má nutrição. Nesta terceira edição verifica-se que houve progressos, mas não com a rapidez exigida pela causa. Nos períodos de 1990-1992 e 1998-2000, o número de pessoas famintas diminuiu apenas 2,5 milhões por ano, e isso graças à média ponderada entre os bons resultados na China (menos 74 milhões), Vietnã, Tailândia, Nigéria, Gana e Peru, onde
a má nutrição retrocedeu consideravelmente (atingindo mais de três milhões de pessoas), e o desastre que ocorre em vários países onde
a fome aumentou, sobretudo na África subsaariana (a Somália detém o triste recorde de subnutrição do planeta, que atinge 75% de sua população). Na verdade, a luta contra a fome sofreu um retrocesso no mundo nos últimos anos, o que torna praticamente impossível atingir o objetivo fixado em 1996 durante a Cúpula de Alimentação de reduzir à metade o número de pessoas subnutridas até 2015. Para alcançar essa meta seria necessário que o número de pessoas desnutridas diminuísse 20 milhões por ano, o que está longe de acontecer. Durante a última década, o total de subnutridos nos países em desenvolvimento caiu aproximadamente 40 milhões, numa média modesta de seis milhões
por ano, dois milhões a menos que a média registrada pela FAO em 1999. Consequentemente, a redução anual agora necessária para
atingir a meta de 2015 passou de 20 milhões para 22 milhões de pessoas. A diferença entre a redução realizada e a redução necessária vem aumentando, o que permite concluir que, nesse compasso, levaria pelo menos 60 anos para atingir a meta definida em 1996.
Aqui ou na Somália, o combate radical à fome é o primeiro e vital passo para erradicar a pobreza. Isso foi reconhecido até pelos integrantes do G8, o grupo dos países mais ricos e poderosos do mundo, durante a reunião do ano passado, em Gênova, na Itália, de onde saiu um comunicado final que dizia que “a estratégia principal para a redução da pobreza consiste no acesso ao alimento e no desenvolvimento rural”.
O que se questiona é por que eles, os países ricos e bem nutridos, contemplam placidamente a morte de 25 mil famintos por dia. No ano, o número, só de crianças com menos de cinco anos, passa de seis milhões. É assustador: a cada 3,6 segundos alguém morre de fome no mundo. “Quem tem fome tem pressa”, dizia Betinho, irmão do cartunista Henfil, o sociólogo militante Herbert de Souza, que, entre outras coisas, criou a organização-não governamental Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, em 1994, no Rio de Janeiro. Três anos depois, no dia 9 de agosto de 1997, ele morreu aos 61 anos em sua casa, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Deixou uma esplêndida história de heroísmo, livros, muitos amigos, a bandeira hasteada contra a fome e a frase que agora ganha o Palácio do Planalto.


Fórum relembra frase de Betinho: quem tem fome tem pressa
[24/3/2004] 25 de março de 2004 - "Quem tem fome tem pressa." A frase criada por Betinho na década de 1990 foi relembrada hoje pelos palestrantes do workshop Agronegócio e Desenvolvimento Local, um dos temas escolhidos para o Fórum Permanente de Agronegócios, realizado nesta quinta-feira, no auditório da Biblioteca Central da Unicamp.
O primeiro apresentador a relembrar as palavras de Betinho foi o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, José Giaccomo Baccarin. Ele afirmou que a ação social tem preocupação forte com o índice de 10 milhões de famílias brasileiras abaixo da linha da pobreza e enfatizou que a redução do índice só poderá ser garantida se houver ação integrada de diferentes áreas do governo.
Baccarin falou sobre a criação de 40 conselhos estaduais (Consads) para formulação de políticas de atribuição. Uma das medidas emergenciais contra o atual quadro instauradas pelo governo federal é a política de suplementação de renda, responsável pelo atendimento a 3,6 milhões de famílias. A intenção é chegar a 4,5 milhões. "Em alguns casos, a atribuição é feita em cestas de alimentos. Em outros, pelo projeto bolsa-família, com desconto no sistema bancário.". Uma parcela muito pequena da sociedade consegue garantir a variedade de alimentos em suas refeições. E são essas, de acordo com a especialista, que, além de não ter problemas com desnutrição, estão menos suscetíveis à obesidade.
A iniciativa, entre outras, faz parte do projeto de desenvolvimento de políticas públicas para garantir à população o direito de se alimentar adequadamente. "Existem pessoas que comem bastante, mas sem dignidade. Buscam resto de alimentos para se alimentar", enfatizou. Outra questão a ser discutida com urgência entre as que estão associadas al alto índice da pobreza no País é a geração de empregos e rendas. De acordo com o secretário, o Brasil não tem deficiência de alimento. "Produzimos muito e barato", mas a maior parte da população está suscetível à insegurança alimentar, devido à má distribuição de renda.
O projeto resumido por Baccarin prevê ações locais, focadas no incentivo à agricultura familiar. Em 2003, em apenas seis meses, foi aprovada e revogada uma lei que permite a aquisição de alimentos produzidos por pequenos agricultores. Der 17,3 milhões de brasileiros ocupados na agricultura, 12 milhões trabalham em regime familiar, revelou o representante do governo. A aquisição de produtos produzidos pelas famílias pode favorecer o aumento da produção e a geração de emprego e renda.
Linhas de crédito criadas pelo governo federal, como a Pronaf, são a saída para que ´pequenos agricultores aumentem sua produção. Paralelo a isso, o Ministério da Agricultura e as secretarias incentivam a compra desses produtos por parte de empresas públicas e escolas. Entre 2003 e 2004, foram liberados 5,3 bilhões para financiamento a essa categoria.
O projeto do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome está aliado a alguns projetos desenvolvidos pelo Ministério da Saúde, como a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, apresentada por Marília Mendonça Leão durante a mesa redonda. Coordenadora da equipe de investigação e monitoramento em alimentação e nutrição do Ministério da Saúde, ela declarou que, apesar de os dados comprovarem que a desnutrição infantil e de adultos estão em declínio, o índice de mortalidade infantil causada pela fome ainda é "a maior vergonha nacional".
Outra questão que necessita de maior atenção de estudiosos e responsáveis pela saúde pública, segundo Marília, é o combate à obesidade. Os quadros demonstrativos remetem à realidade do baixo padrão de consumo brasileiro em termos de qualidade de alimentação. As famílias de baixa renda acabam se alimentado mais de tubérculos e grãos, ao passo que as famílias de renda média dão prioridade à alimentação da criança.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Matéria Jornalistica



Descrição: http://www.uai.com.br/UAI/noticias/fotos/20070227140149506.gif
Sexta-feira 27 de junho de 2008 17:44


Desempregado é preso ao roubar para comer no RS
Agência Estado

Descrição: http://www.uai.com.br/UAI/imgs/barra_texto.png

O desempregado N.G.O., de 23 anos, foi preso nesta sexta em flagrante, após furtar objetos metálicos e 42 laranjas do horto florestal que fica no Centro Agropecuário da Palma (CAP), em Capão do Leão (RS), pertencente à Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Autuado pela polícia por furto e dano qualificado, N.G.O. declarou que esperava receber entre 5 e 6 reais com a venda dos objetos (como maçanetas) a um ferro-velho para comprar comida.

As frutas pertenciam ao Pomar Didático da UFPel, usado em aulas de graduação e pesquisas de mestrado. O diretor do CAP, Alexandre Lopes, não soube confirmar se houve prejuízo a pesquisas em andamento, que também são realizadas na área do centro, de 800 hectares (8 milhões de metros quadrados).

Os estudos com frutos de várias espécies ocupam cerca de 25 hectares (250 mil m²), conforme Lopes, que ainda não esteve no local para confirmar de qual área foram retiradas as laranjas. A Brigada Militar foi acionada pela vigilância da universidade para atender à ocorrência, quando prendeu o desempregado, que é morador de uma vila popular vizinha ao horto. N.G.O. foi encaminhado ao Presídio Regional de Pelotas.


Acessado 17/11/2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

ARTIGO


A ÉTICA NA FOME. É POSSÍVEL?
            Ao pensar no indivíduo ainda na sua infância, conseguir-se-á elaborar uma resposta ou uma solução para tal questionamento ?
            Mediante o levantamento de dados em entrevistas concedidas por agentes sociais atuantes nas instituições de saúde e segurança públicas, verificou-se que a maioria das ocorrências registradas são justificadas principalmente pela privação do direito mais elementar do cidadão comum: o de se alimentar. Entre todos os argumentos apresentados, o que prevalece é a fome.
            Reza a constituição brasileira que o indivíduo seja reconhecido no ato de seu nascimento e, reza o instinto de sobrevivência que, nesse primeiro momento, o primeiro cuidado que se lhe tem é o de por o alimento em sua boca. A partir daí ele passa a existir socialmente; primeiro,          em família, de onde depreenderá os primeiros ensinamentos que o norteará em seu segundo ambiente social: a escola.
            Nesse momento de inserção social, ao invés de romper com o compromisso que tem com esse indivíduo, transferindo-o para o Estado (via escola), a família deve somar-se a este na preparação desse indivíduo (ainda na infância/juventude) para a maturidade, fazendo dele um adulto consciente de seu lugar social como reprodutor de comportamento ético socialmente pré-estabelecido.
            Mas, e se a família de origem desse indivíduo não der conta de suprir-lhe as necessidades mais básicas e elementares como a provisão de seu sustento alimentar diário e de incutir nele uma consciência ética de superação? E, se a própria família não tiver esse comportamento ético de superação como conteúdo para repassar para esse indivíduo e o mesmo chegar à escola desestruturado familiarmente? Como proceder?
            Esse é o momento em que a sociedade (propriamente dita), via agentes sociais capacitados profissionalmente têm a oportunidade de desempenhar suas competências. É nesse momento da vida social desse indivíduo que a figura do “educador” se faz mais necessária. Ele será, a partir daí, o condutor/reprodutor do comportamento individual requerido socialmente, pois, segundo Paulo Freire, considera-se que “a visão de conhecimento que o educador tem, repercute diretamente na sua prática pedagógica”.
O CONCEITO DO TERMO “ÉTICA”: Denotativamente, o termo está assim classificado: “ETHIKÉ. S.F.1. Filos. Parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. 2. Conjunto de princípios morais que devem ser respeitados no exercício de uma profissão”.
            Ao inquirir-se a proposta conceitual do termo, depara-se com todo o subjetivismo do mesmo. E, por significar subjetivamente, busca-se forma de materializá-lo, torná-lo palpável, sensível. O termo  passa, então, a ter peso real através dos comportamentos (sejam esses bons ou ruins) exercidos pelos indivíduos, passando a significar objetivamente.
AS RELEVÂNCIAS DO TEMA
            A primeira relevância objetiva do tema é que, por viver em sociedade, o indivíduo pressupõe o “outro”. A pergunta que se faz é: Como comportar-se em sociedade? – Se a pergunta é retórica, a resposta, no entanto, é inacabada, uma vez que a vida segue num ciclo ininterrupto, a sociedade não se extingue; ao contrário, renova-se de geração em geração e a ética, por ser um conjunto de princípios morais pré-estabelecido na (e pela) sociedade, tende a nortear o pensar e o agir dos indivíduos nela inseridos e a convergir esse pensar/agir para um “fazer” convencionado socialmente. Ela (a ética) é investida de valores criteriosos e estabelece relações e hierarquias entre esses valores para consensualizar as ações em todos os âmbitos sociais. Enfocada no contexto histórico-social, ela perpassou a humanidade desde o surgimento desta e, na atualidade , onde a explosão demográfica chega aos sete (7) milhões de habitantes ocupando a mesma configuração geográfica, mantê-la com o mesmo propósito para o qual foi instituída é uma proposta desafiadora, visto que ela está internalizada na concepção de mundo de cada indivíduo e todos, indistintamente, requer que ela lhe seja propiciadora de bem-estar físico, psicológico e social.
            A segunda relevância está no fator preponderante de que a demanda de indivíduos comprometidos por degeneração física, psicológica e social, é proporcionalmente relativa à explosão demográfica estatisticamente comprovada. Isso calculado em percentagem, é um número preocupante; sendo a sociedade um organismo vivo, não estanque, constituída por indivíduos ativos, socialmente pressupostos, transige com uma prática coesa entre esses indivíduos, e, ao deparar com uma ocorrência contraditória é necessário que se busque, de imediato, uma resposta corretiva para tal avaria; quando não, a possibilidade de que essa ocorrência comprometa o restante do sistema é iminente.
            A terceira relevância está em considerar que, em algum lugar e momento social, essa ocorrência se deu, instalou-se, e se propaga num ritmo desenfreado, principalmente nos grandes centros urbanos. Verifica-se que o número de moradores de rua (ou indigentes) aumenta todos os dias e as políticas sociais não dão conta de refrear esse processo de degradação humana, desconstruindo a prerrogativa do artigo 5, parágrafo III da Constituição Brasileira, onde requer-se que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.
            É, portanto, nesse momento crítico social que se retoma a ética como tema em evidência e viabilizasse-la como uma costura para a “malha social” cerceada por esse contingente humano “coisificado” e (pior) visto como um “câncer social”.
            Partindo da premissa de que esse contingente humano é constituído por indivíduos que emergem em meio a uma sociedade capitalista por imposição de uma política que segrega, argui-se: “por onde”, “como” e “com o que” começar essa costura?
            Um começo seria considerar o argumento que essa parcela da sociedade apresenta para justificar tais desvios da “conduta padronizada” pelos princípios éticos e, uma vez detectado o fator gerador desses comportamentos, viabilizar propostas que confiram à esses indivíduos uma condição digna e que o reintegre como elemento aceito por essa sociedade que o discrimina enquanto transgressor da ordem convencionada socialmente.
            Se, entre todos os argumentos apresentados no momento de se lavrar uma ocorrência, o que prevalece é o da “fome”,retoma-se, então, o questionamento “começar por onde” a reparação necessária para suprimir tal fator desencadeador desse processo anti-social, a saber, os furtos/roubos praticados por esse contingente desprotegido (descoberto) pelas tantas “leis” elaboradas justamente com o propósito contrário, ou seja, o de resguardar os direitos civis de todo integrante da sociedade brasileira?
            Considera-se que, em havendo  uma constituição Nacional, esta, por princípio,deveria ter, como prioridade, a sua “divulgação” manifestada como um norteador para as práticas sociais;não como um conteúdo “à parte” do currículo escolar (como foi o caso da disciplina de “Educação Moral e Cívica” entre os anos 60/70 do século passado), mas integrante do mesmo e, este então seria o segundo passo (o 1º é a “consideração” do argumento apresentado para justificar os desvios de conduta), uma vez que esse indivíduo carrega consigo um acúmulo de conhecimento desde que começa a tomar ciência da sua existência. Pergunta-se o porquê de disponibilizar o conteúdo da Carta Magna para o indivíduo ainda na sua infância; o mais óbvio é para que ele tenha incluído no acúmulo de seus conhecimentos a proposta socialmente convencionada que o inserirá no seio da sociedade da qual fará (ou já faz) parte durante todo o trajeto de sua vida. E isto porque enquanto criança, a possibilidade de absorção de conhecimento é muito mais efetiva.
            Sabe-se que a fome decorrente da privação de alimento é precedida por outra que tem uma abrangência ainda maior, a saber, a “fome” de conhecimento; e essa, indiscutivelmente, passa pela educação pública. Por isso a necessidade de se organizar um currículo escolar que viabilize a prática da cidadania pelo acesso ao conteúdo das leis como mostra nítida de que a mesma foi pensada para todos, indistintamente. Desse modo, desde o mais alto escalão político/social até o indivíduo considerado “interditado” (ou inimputável) socialmente teriam plena consciência de seus atos, não precisando justificar qualquer situação de delinqüência, uma vez que, via conhecimento, todos teriam acesso às condições mínimas (porém dignas) de sobrevivência, a começar pelo trabalho, que confere essa dignidade à todos quanto primam pelo “pão” conquistado com o suor do próprio rosto e, este (o trabalho), via de regra, é a ferramenta que verdadeiramente confere dignidade ao indivíduo. O trabalho humaniza, e, ao realizá-lo, os  homens  se humanizam.
            Sendo assim, tem-se, nessa interação social , que visa o bem estar de todos, o diálogo entre as classes sociais que se interdependem, e, esse mesmo diálogo que circula nos “espaços sociais” revela as “ideologias” que perpassam a mente humana e alimentam o ego de cada indivíduo. Segundo Paulo Freire, entre os que se empenham em encontrar uma resposta para os males sociais dá-se o consenso de que “os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, não havendo, portanto, educação  politicamente neutra, já que toda neutralidade afirmada é uma opção escondida”.
            E diz mais: “Ainda que não se perceba, toda práxis no espaço educacional “ou pende para a libertação/ humanização dos seres humanos ou para a domesticação/dominação dos mesmos”; enfim, ao visar-se uma sociedade ajustadas nos moldes éticos pressuposto por (um) organismo institucional (a Carta Magna) e produzido por indivíduos eleitos (dentro dessa mesma sociedade) para tal “fazer” há que se consensualizar a máxima de que , em sociedade, nada é isolado e a liberdade de expressão só se justifica ao pressupor o “outro”, por isso dizer “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho; os homens se libertam em comunhão” (citação). Nesse sentido, “pensamento e obra” juntam-se, formando um só tecido (citação).
            Para viabilizar tal proposta de reconstrução social requer-se que as primeiras costuras da “malha” rompida pela conduta degenerativa desses “alguns” dê-se através de interventores (os educadores) envolvidos com o sistema educacional, uma vez que eles ( os educadores)foram (e são) capacitados para atuar nessa instância social, reproduzindo “saberes” (valorados nos espaços sociais) que transformam comportamentos e que, nas mãos deles está o equipamento apropriado para a paralisação da degradação social: a educação pública básica dos discentes infanto-juvenis.
             Dentro do ciclo ininterrupto da vida (num futuro próximo) são esses discentes que conduzirão o “bastão” da educação para os que estão nascendo agora e que ocuparão os bancos escolares; e serão eles mesmos os pais/mães responsáveis por essas próximas gerações e à elas delegarão o conhecimento que estão adquirindo (e acumulando) dos educadores atuais. Percebe-se, então, que o remédio necessário para a cura do câncer social chamado “fome” é produzido no topo da pirâmide social, dentro dos limites governamentais, e que esse remédio tem nome: chama -se “consciência social” (o qual implica um “valor moral”, analogicamente comparado a um espelho, por refletir a imagem daquele que o solicita) e tem de ser patenteada por aqueles que têm diante de si a responsabilidade de produzir a qualidade de vida necessária e inerente a cada indivíduo incluído na sociedade nacional, seja essa inclusão advinda por nascimento ou naturalização, no caso de estrangeiros. Essa consciência social, tal qual “um “espelho” deve refletir uma imagem real, não distorcida, para que, ao dirigir-lhe o olhar, o indivíduo veja-se como está e identifique o que precisa ser mudado em sua conduta pessoal para somar-se ao “social”. Esse indivíduo , ainda na sua infância, tem como parâmetro, ou espelho, o comportamento dos pais e/ou responsáveis; esses o conduzirão em suas primeiras aquisições comportamentais, reproduzidas, posteriormente, nos espaços sociais (escolas, trabalho,...).
            O que justifica o conceito da “ética” estar intrinsecamente “amalgamada” aos conteúdos curriculares é o fato de que, segundo Paulo Freire, a educação do indivíduo (iniciada no ambiente familiar) é continuada no ambiente escolar, impreterivelmente (as exceções são abjetas) e esta (a educação) decorre do fato de “as pessoas serem incompletas e estarem em relação com o mundo e com as outras pessoas; são incompletas desde que nascem, quando é mais fácil perceber isso: não falam, não andam, não reconhecem as pessoas, são totalmente dependentes...” (citação). “...essas incompletudes são superadas mediante uma educação consistente decorrente da “teoria” do conhecimento posta em “prática”, repassada,dividida, repartida”. (citação).
            Essa educação consistente é “dialógica” e a mais poderosa ferramenta pedagógica utilizada para ampliar o nível de consciência do indivíduo, promovendo nele uma nova forma de “pensar e sentir a existência”; propõe-lhe um novo ângulo de visão/percepção – o de que todo o “saber” deve contribuir para o empenho coletivo de transformação da realidade e, principalmente, da superação da miséria que culmina na (já banalizada, considerada normal) “animalização” do ser humano, como retratada no poema “O Bicho”, de Manuel Bandeira.


  A TRANSVERSALIDADE DO TEMA “ÉTICA”
            A “ética”, conceituada subjetivamente, impetra valor moral/social perpassando todos os âmbitos circundantes da esfera terrestre (habitat designado para a vivência humana) e é quesito avaliativo dos comportamentos vivenciais; é, portanto, delimitadora nocional de todos os atos a serem praticados. Em:
TRABALHO/CONSUMO: Ela (a ética) tem no “trabalho” o elemento de transformação da natureza arbitrado com ou sem a consciência da responsabilidade do indivíduo que o impetra. Se “consciente”, retira dela (da natureza) o necessário para a subsistência sem promover a degradação do solo, e a reposição, por replantio, do mesmo. Se “inconsciente”, explora-o com uma visão centrada no lucro indiscriminado, não levando em conta o empobrecimento do mesmo com a adição de aditivos químicos produzidos artificialmente, calcarizando- o e inviabilizando produções (independentemente do que seja) posteriores.No consumo “consciente”, adquire o necessário a sua subsistência diária sem incorrer no excesso que demanda uma produtividade agressiva ao meio ambiente e descamba no desperdício. Ao contrário, o consumo inconsciente consiste na disposição em adquirir e acumular bens que não se fazem necessário à subsistência dos indivíduos, mas que lhes confere uma “ilusão” de status social e/ou poder financeiro.  
A SAÚDE: No sistema público, requer-se dos agentes sociais que o constitui, uma postura profissional em que a “ética” pese para a promoção da vida e bem-estar de todo o indivíduo que a tenha (a saúde) por patrimônio relevante em primeiro plano; na sua ausência (da ética), as condutas profissionais tendem ao descaso e, com isso vê-se, não raro, os casos de “inconsistência” profissional ocasionando óbitos decorrentes de medicação trocada ou intervenções mal sucedidas. Questiona-se quais argumentos justificam a negligência do juramento professo por tais profissionais e os autoriza a priorizar uma vida em detrimento de outra, como se tal escolha fosse compreensível. A ética, nessa instância social (a da saúde pública), mais que uma postura profissional, revela a índole moral que reveste o caráter dos indivíduos que atuam nesse espaço social. Ainda, no espaço escolar, a condução do tema “saúde” entre os discentes precisa ser, no dia a dia, trazido de modo a esclarecer e reforçar comportamentos que viabilizem um ambiente sobretudo limpo e, consequentemente agradável para a prática da convivência e do aprendizado lembrando-os, sempre, de que cada um deve tornar-se responsável, no mínimo, pelo “próprio” bem-estar.
A EDUCAÇÃO SEXUAL: Advindo de lares em que a liberdade é sem limites, muitos discentes, em idades extremamente precoces (sem a menor noção dos próprios atos), incorrem em situações constrangedoras de libertinagem que, independentemente de suas opções sexuais, transigem com uma postura ética ao menos durante o período em que freqüentam um espaço comum à todos: o da escola. Sendo um espaço de caráter “coletivo”, há que se lhes esclarecer quais são as normas e estatutos que regem essa convivência visando a promoção do bem-estar de todos quantos o freqüentam. Os esclarecimentos e as orientações sobre essa prática cada vez mais precoce é necessária, principalmente para protegê-los das conseqüências nefastas decorrentes da não prevenção das DSTs e gravidez, indesejada pela não condição social, financeira e do total despreparo psicológico nessa faixa etária que, por ocorrer nessa fase escolar, pressupõe-se entre os 12/18 anos. Tal qual uma “bola de neve”, não raro são os casos em que adolescentes, ao descobrirem-se grávidas, recorrem ao aborto, pondo-se em risco de morte juntamente com o feto e/ou, numa gradação previsível, recorrem ao uso/consumo de drogas e, por fim, em vista da desproteção familiar, acabam por assumir uma condição de promiscuidade/prostituição como condição de sobrevivência. Ainda, por fazerem parte de uma geração em que a “noção” de família está reconfigurada, importa trazê-los cônscios de que a convivência com essa nova “configuração familiar” é pré-requisito para a inserção nos espaços sociais em todos os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, religiosos,... trabalhando-se, dessa forma, a contenção das práticas discriminatórias as quais propiciam uma conduta ainda mais perigosa: o bulling.    
A PLURALIDADE CULTURAL: O Brasil, em sua formação societal teve, desde o princípio de seu povoamento, uma constituição demográfica plural. A somatória dos povos nativos (os índios) com os colonizadores europeus e os negros chegados posteriormente resultou nessa difusão cultural riquíssima não contemplada em nenhum outro lugar do globo terrestre (nem mesmo nos Estados Unidos da América, considerado o “exemplo” de democracia a ser seguido), por um quesito inerentemente brasileiro: a convivência pacífica entre os diferentes grupos que compõem a sociedade geral. Isso confere à pátria brasileira uma singularidade ímpar, que cativa e agrada a todos quanto dela tomam conhecimento pela experimentação da convivência com o nosso povo. Essa realidade justifica para conscientizar alguns que, por algum desvio de informação, sentem-se incomodados por essa pluralidade, podendo citar-se os grupos dos intolerantes sexuais/raciais como os “skimheads” conhecidos, sobretudo, pela truculência com que lidam com os que eles consideram diferentes/inferiores a eles. Combate-se, entretanto,essa prática, por não representar a realidade social brasileira e, é necessário que se reproduza no ambiente escolar a “ética” no convívio com o “diferente” para que se veja nessa diferença uma característica de enriquecimento cultural, fazendo assim   prevalecer  o respeito entre os diferentes grupos e culturas que compõem o mosaico étnico brasileiro.    
MEIO AMBIENTE: O meio ambiente, entendido como espaço físico geográfico, se passível de cuidados necessários para a promoção do bem-estar indispensável à todas as formas de vida (inclusive e principalmente a humana), também deve ser extensivo à “boa convivência dos indivíduos socialmente pressupostos”. O meio ambiente, assim ressignificado, implica  no entendimento de que o espaço social de “um” é determinado pelo espaço social do “outro”. Assim posto, a ética é manifestada na capacidade de convivência entre os indivíduos que compõem os grupos sociais. E esse é, sem dúvida, o “olhar” que deve prevalecer na construção do social. Exemplo real é a observância do considerado “mais frágil”, caso das comunidades indígenas, pressionadas a ceder o seu espaço físico ambiental à reformulação do mesmo para a construção/ampliação das comodidades urbanas em detrimento da natureza em seu estado original e do desconforto dos povos ali abrigados por direitos legítimos. Quer no espaço urbano , quer no conservado natural, legitima-se a ética na observância do equilíbrio tanto ambiental quanto social.



ENTREVISTA


TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
OBS.: Buscou-se retratar o mais “fiel possível” na linguagem “escrita”, a “fala” de dois profissionais atuantes na área da saúde pública sobre a visão que eles têm sobre as questões relacionadas ao termo “ética”. Ambos não autorizaram a divulgação de seus nomes pelo fato de que, ao concederem a entrevista, falaram em nome próprio, e não da instituição à qual estão vinculados profissionalmente.

MÉDICO GINECOLOGISTA
G.: Como é tratada a “ética” na sua profissão?
DR.: __”A ética nada mais é que (pausa)...a conduta adotada pelo profissional de cada área...Como na nossa área, nós lidamos com “vida”, que é...um bem maior do ser humano, a ética é uma questão que...deve ser levada respeitosamente e , em fim,... ela nada mais é que a boa conduta...É o primeiro mandamento do “cuidar”... Não pode ser manchada”.
G.: Quais as conseqüências da fome ou desnutrição para a parturiente e para o feto?
DR.:__”Catastrófica. Para a mãe, pelo risco de infecções... Ao concepto (feto), a desnutrição materna é a causa freqüente de restrição do crescimento intra-uterino e... as... implicações associadas a ele... ou seja, os conceptos pequenos para o tempo de gestação... o que perdura para o resto da vida, caso... ele não tenha condições de subsistência digna”.
G.: Na sua opinião, o roubo para saciar a fome é moral?
DR.:__”Ilegal é... eu não julgo imoral...ninguém merece padecer de fome... Num planeta como o nosso, é um desrespeito com a mãe natureza...” (cita o CEAGESP, exemplificando como é jogado fora os alimentos)... É uma agressão para aqueles menos favorecidos, e que... por uma razão ou outra, se encontram desempregados, com família... as vezes numerosas para alimentar... enquanto comerciantes jogam fora tantos alimentos... que são... alguns perecíveis sim, mas se fosse para utilizar no dia daria para ser reaproveitado... Isso,sim, é imoral... é ilegal,... anti-ético,... uma “pouca-vergonha”...(indignação).
G.: O senhor acha que o “meio” em que ele vive, propicia o ato contraventor?
DR.:__”Provavelmente... pois... se ele não tem condições socioeconômicas que dê amparo... Uma mãe, por exemplo, que tem o filho reclamando de fome... o que ela tem a fazer?... imoral, é... mas a situação a leva a aquilo... é muito relativo...”.
G.: (Sobre as elites). O senhor falou sobre condições socioeconômicas. O que é o poder?
DR.:__”(Primeiro) 1. É ser “rico”. Se junta a riqueza com a informação... se torna potência”.
“(Segundo) 2. Informação... quando há informação... tudo é possível de ser evitado...”


PSICÓLOGA (PSICOPEDAGOGA)
G.: Quais as conseqüências da má nutrição para o aprendizado?
PSI.:__”Todas... Na criança má nutrida, o rendimento escolar cai. O cérebro não funcionará tão rapidamente como o da criança que se alimentou. O seu cognitivo ficará exposto a complicações clínicas associadas ao desenvolvimento cognitivo”.
G.: Na sua opinião, o roubo/furto para saciar a fome é moral?
PSI.:__”Não. É imoral. Dentro da minha filosofia, eu aprendi que roubar é errado. É mais correto pedir do que roubar. A minha concepção se explica devido a sociedade na qual eu me insiro. Não existe “mais ou menos”. Ou roubou ou não roubou. Ou seja... eu sou contra o roubo... O povo na África... “come” areia e não vai roubar”.
G.: Pode se dizer que os transtornos de comportamento moral dependem do “meio social”?
PSI.:__”Sim. Porque a pessoa vai adquirindo... e transfere aquilo que vivenciou. Apesar de que... outros fatores podem... fazer com que atitudes... suas atitudes sejam diferentes das do meio em que vivem. Depende da questão genética de cada um... a pré-determinação influi muito na conduta do indivíduo. Difere de pessoa para pessoa”.


Tem-se, ainda, o relato de um representante social atuante nas instâncias jurídicas à quem foi proposto, basicamente, as mesmas questões anteriores. Advogado, o DR. ELIAS ALVES COSTA foi conciso, direto, mas, nem por isso menos “humano” ao discorrer situações que interferem  na “saúde” da sociedade  nacional.
G.: DR. Elias, como é tratada a “ética” na sua profissão?
DR. Elias: __”Na advocacia, a ética é pensada de forma que possui um código de ética escrito, que é representado por uma lei federal que traça princípios e normas a serem observadas pelo advogado na sua relação com sue cliente, sua classe profissional e com as instituições públicas comas quais se relaciona no seu dia a dia, com o promotor, com o juiz, com as partes que englobam o processo, visando a valorização da classe profissional da advocacia, diante do poder judiciário como ator essencial para a administração da justiça, de forma independente visando garantir os direitos dos cidadãos e o cumprimento das leis e da constituição”.
G.: Quais as conseqüências da fome ou desnutrição para a parturiente e para o feto?
DR. Elias:__” Para mim, como advogado, pode gerar, futuramente, delinqüência por parte da mãe. Levando-se em consideração o estado de necessidade em que se encontra, ela pode vir a cometer um delito/furto/roubo visando saciar a fome. Numa hipótese mais extrema, ela poderia vir a praticar um aborto, eliminando uma possível vida representada pelo feto... ou o feto nasceria prematuramente, deficiente físico e/ou mental”.
G.: Na sua opinião, o roubo para saciar a fome, é moral?
DR. Elias:__ “Primeiramente, deve-se levar em conta qual o conceito de moral e em qual grupo de pessoas estaria inclusa a pessoa. Em um segundo momento, como advogado, responderia que não é moral, todavia, é um delito justificável, posto que a justiça tem aplicado aos casos concretos a espécie designada de “furto ou roubo famélico”.
 G.: Quais as conseqüências da má nutrição para o aprendizado?
DR. Elias:__ “Baixo desenvolvimento psicológico e mental, dificuldade de raciocínio e concentração, etc. Os testes de avaliação, no Brasil, em relação às classes menos favorecidas, têm demonstrado níveis de aprendizado baixo”.
G.: Pode-se dizer que os transtornos de comportamento moral dependem do “meio social”?
DR. Elias:__ “Sim e não.O que muda são as espécies de transtornos observados em cada classe e a forma como são praticados os pequenos desvios de conduta pelos indivíduos de classes sociais distintas. Em uma análise mais profunda, digamos que não, posto que, o que muda é o grau de reprovabilidade, pois, no meu ponto de vista, um furto cometido por uma pessoa menos favorecida, de classe social baixa, possui, ou deveria possuir uma reprovação menor. Ao contrário, seria o furto praticado por uma pessoa de nível social alto, pois esse possui mais conhecimento, mais intelecto, maior nível educacional, que tem seu nível de conduta bem mais reprovável”.   
      
     

quarta-feira, 2 de novembro de 2011


Encontramos na internet, interessante!




Acessado em http://www.youtube.com
em 02/11/2011.

Charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, certo acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas.



Aprender com Gêneros.
As tirinhas são uma crítica feroz aos costumes e prisões do dia-a-dia, sem pudores ou censura e politicamente incorretas.

sábado, 10 de setembro de 2011

ÉTICA - A ESSÊNCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO

INTRODUÇÃO


             A proposta governamental para a inclusão dos Temas Transversais como conteúdo educacional-escolar paralelo aos PCNs visa, à princípio, a inter-relação dos comportamentos exercidos pelos indivíduos envolvidos nesse sistema; não no sentido de “nivelar” esses comportamentos, mas, de resgatar, dentro do espaço educacional, atitudes conscientes voltadas para a promoção de um bem-estar social geral. Nota-se, ao examinar os conteúdos já produzidos (e disponibilizados para a pesquisa pública) sobre esses temas (que somam 6), que eles se entrecruzam na medida em que vão produzindo sentido naqueles que os examinam.
            Assim sendo, diante da abrangência desse conteúdo, fez-se necessária uma delimitação para o desenvolvimento dessa ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA. A escolha do tema deu-se, via consenso, entre os membros do grupo de pesquisa e a opção foi a ÉTICA, que no aspecto pragmático da palavra possui forte entrosamento com a realidade social, política e cultural (cultura: conceito antropológico = toda a produção humana = comportamento bom/ruim).
OBJETIVOS GERAIS
            Disseminar para a sociedade em geral (especialmente para a comunidade escolar) esse acréscimo curricular;
            Utilizar os conteúdos já produzidos pelos agentes sociais envolvidos com o sistema educacional para promover debates/seminários entre as comunidades escolares.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
            Reforçar (como proposta social) a necessidade de desenvolver comportamentos conscientemente éticos na interação com o outro;
            Reproduzir, na comunidade escolar, o comportamento socialmente (desejavelmente) convencionado.
JUSTIFICATIVA
            Por ser uma fonte inesgotável de avaliação e pesquisa, e renovável, quando a necessidade de retomá-lo faz-se presente no seio social, o tema Ética se nos mostrou o quanto podemos, através de sua dissecação, produzir saberes inerentes à boa convivência no ambiente educacional. Para tanto, como futuros educadores, a condução do tema para fins de lida educacionais justificou-nos tal “fazer”.

METODOLOGIA
             Buscou-se, à princípio, elaborar a parte teórica do trabalho de pesquisa buscando embasamento nos conteúdos já produzidos principalmente pelos órgãos governamentais, visto que a educação pública é a base da estrutura social da nação brasileira e é fator gerador de preocupação constante nas instâncias dos sistemas educacionais nos âmbitos federais, estaduais e municipais. Enriqueceu-se, ainda, essa parte teórica pesquisando a produção literária do educador Paulo Freire por ser este um dos pioneiros do método educacional fora do ambiente da sala de aula. Num segundo momento, apresentou-se entrevistas feitas com agentes sociais da área da saúde e segurança pública que serão transcritas na sequência.
A IMPORTÂNCIA DO TEMA
            Segundo Paulo Freire “É o direito de todos à vida que nos faz solidários; e é a opção pela vida que nos faz éticos”.
            A ética, não obstante retórica, é tema sempre atual por ser inerentemente humano e norteador dos comportamentos individuais desde os primórdios da espécie humana; tem, portanto, peso social pretensamente somatório na medida em que a retomada de sua significância no âmbito da educação pública nacional serve de justificativa para embasar algumas das propostas governamentais.
            A Carta Constitucional da República Federativa do Brasil, em seu artigo 1º contém o primeiro registro oficial comprobatório da importância do tema “ética” quando refere-se à “dignidade da pessoa humana...” e atrela a esse referente um valor moral. Ainda em seu artigo 3º, entre outros itens, encontramos oficializado em seu parágrafo III: “Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”;
            Parágrafo IV: “Promover o bem estar de todos”, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
            No artigo 5º, parágrafo (ou título) III, registra-se: “Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”;
            Parágrafo X: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (...)”. E vamos por aí afora. Muito mais se poderia citar em termos de leis, estatutos e normas governamentais, no entanto, esse contingente inicial disponibiliza um leque ampliadíssimo de vertentes nocionais promotoras da condução do processo social. Trazer esse ideal social para a vivência real pressupõe a difusão do conhecimento do mesmo nos ambientes educacionais, pois esses ambientes é que são, por assim dizer, o “segundo habitat” social do indivíduo ainda na sua infância (precedido do seu lar familiar, obviamente).
            Peca-se, no entanto, quanto á disseminação desse conhecimento, e inviabiliza-se com isso a imposição de uma conduta individual pré-concebida socialmente já que na construção dos saberes há a necessidade de se ter esse conhecimento como pré requisito.
            Verificada a abrangência do tema e entendido que ele recobre toda a vivência humana, viabilizou-se um “recorte” para que o mesmo fosse delimitado numa temática sucinta e subjacente ao mesmo. Esse recorte temático tornou possível a elaboração de questionamentos vivenciados diuturnamente pela sociedade e evidenciou o fator “fome” como gerador de condutas antissociais.